quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Histórias do Paraná - Zé-Pequeno

Histórias do Paraná - Zé-Pequeno

Zé-Pequeno
Hosny Silva

Aos dez anos de idade, ainda lá em Morretes, já dominando o acordeão, dizia à mãe que ia tocar na igreja e se mandava para os bailecos da vida.
Nem a cachaça de banana, nem o barreado litorâneo conseguiram segurá-lo no rincão morreteano.
Seu espírito musical e boêmio trouxe-o para o alojamento curitibano.
Fosse no eixo Rio-São Paulo ou na Bahia, com certeza seria reconhecido como mais um músico que saiu do meio cultural para ingressar pela porta principal, no folclore brasileiro.
Zé-Pequeno não é mais um tocador de sanfona das noites do Parolim.
Hoje (1994), com 72 primaveras pelas costas, insiste em dar "canjas" pelos recantos notívagos de Curitiba.
Em cada um desses becos que se instala, sempre há um instrumentista, cantor ou compositor a lhe agradecer os ensinamentos e o apoio nunca negados.
Quem da noite fria e quase em surdina de nossa cidade vive, por certo tem alguma história a contar sobre o Zé-Pequeno.
Tanta é a sua importância nesse contexto, que já passou a fazer parte da lenda que o rodeia.
Nesses últimos anos, a figura imponente de seus quase dois metros de altura (apesar do apelido...) transitou nos quatro cantos da Cidade Sorriso: andou lá pelo extinto Frangão da Kennedy e por mais de uma dezena de outras casas noturnas, tendo, inclusive, pertencido ao grupo selecionadíssimo de artistas que o antigo Bar do Nilo - Sambas e Chorinhos teve a honra de contar em suas apresentações.
Andou também pelo Batei, pela Mateus Leme, chegando até a trabalhar em uma churrascaria, na qualidade de show-man, lá pelas bandas de Pinhais.
Correu a cidade inteira, com seu teclado, sua gaita de boca, seu violão, seu acordeão e sua categoria.
De coração e sorriso sempre abertos, tal qual um artista circense, ele engana, porém, a platéia que o admira.
Atrás de si, carrega o estigma da fatalidade.
Contudo, supera a sina e vai frente, com o apoio daquela santa que fica, dia e noite, lá no Capão da Imbuia, a lhe acudir o rebento enfermo e a lhe acolher madrugada adentro.
Prestar esse atributo ao musicista mais importante do Paraná do século XX, parece-me, todavia, mais que uma obrigação. E o resgate, ainda não tardio, de uma figura tão valiosa à historia paranaense como é a de Luiz Gonzaga para o Ceará, por exemplo.
Afinal, viver de música em Curitiba, persistindo por mais de meio século nessa pseudo-profissionalidade, é algo inatingível para a maioria de nossos conterrâneos.
Há uma profunda diferença, hoje, para quem observa o seu trabalho, do Zé-Pequeno de antigamente. O brilho foi substituído pela experiência.
Cada apresentação passou a se integrar à Historia.
Ele agora não precisa mais se fazer perfeito, zelar pelo primor da audição.
Agora, ele se mostra quase que por instinto, como se a música estivesse definitivamente embutida em sua vida.
Toca como nós respiramos.
Sem perceber.
O que se espera, nessa espécie de resgate, é a reverência não ao Zé-Pequeno atual, mas sim ao Zé-Pequeno de sempre!
Um derradeiro aviso: aos que não tiveram a oportunidade e o privilégio de vê-lo e de ouví-lo, ainda dá tempo.
Basta sondar a noite curitibana e perguntar por onde ele anda. Não é difícil achá-lo, pois ele não é nem um pouco pequeno. E um grande Zé!!!

Hosny Silva, cronista


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