terça-feira, 29 de novembro de 2016

Histórias do Paraná - A Lapa e os Farrapos

Histórias do Paraná - A Lapa e os Farrapos

A Lapa e os Farrapos
Sérgio A. Leoni

Dentre os documentos que compõem o acervo da Casa da Memória da Lapa, encontra-se um de grande valor histórico,
oriundo do quartel general na vila de Paranaguá, datado de 9 de fevereiro de 1940, e assinado pelo general Pedro Labatut.
Labatut era um veterano das campanhas napoleônicas e das guerras das independências e da Grã Colômbia, tendo chegado a comandar Simão Bolívar.
No documento em questão, esse notável militar comunicava ao juiz municipal da ‘Villa do Príncipe"* que em breve chegaria a essa localidade, em companhia de seu estado maior, para assumir o comando das forças regulares imperiais, que continuaram combatendo os farroupilhas.
O sul da então província de São Paulo encontrava-se em perigo, desde 1837, quando a vila de Lages não resistiu à investida dos farrapos e quando Anita Garibaldi chegou até perto do Rio Negro, limite com a província do Rio Grande do Sul.
Nessa ocasião, fora designado para defender São Paulo o brigadeiro Xavier da Cunha, que contava com um total de 1527 soldados, sendo 120 voluntários da Lapa e de Campo do Tenente, comandados pelo capitão Valentiniano José de
Lima.
Em novembro de 1839, essa força acampou no Corisco, ao sul de Rio Negro, depois de permanecer muito tempo na Lapa.
No começo de dezembro marchou até Curitibanos, quando Hipólito Machado Dias, um bravo lapeano, com 120 homens de sua cavalaria voluntária, foi mandado guarnecer o Passo de SantAna, ficando frente a frente com os piquetes republicanos.
Em seguida, a coluna alcançou Campos Novos e logo após retornou a Lages, preparando-se para invadir o Rio Grande do Sul.
Isso realmente aconteceu, porém de forma precipitada pelo brigadeiro Cunha, que acabou sendo derrotado pelas forças do caudilho gaúcho Marinho Aranha, no Passo de Santa Vitória.
A força imperial que contava com aproximadamente 500 homens, foi desbaratada pelas de Aranha que tinha mais de 800, ocasião em que morreram muitos soldados e oficiais e o próprio brigadeiro Xavier da Cunha.
Nesse desastre só não ficaram desmoralizados os voluntários da Lapa e Campo do Tenente que, sitiados por todos os lados, fazendo dos muros de pedras trincheiras, conseguiram de forma heróica romper o cerco.
O "Noticiário", um jornal de São Paulo, publicou o fato em termos concisos, ao mesmo tempo em que veiculava a infausta morte do brigadeiro Cunha: "O denodado Valentiniano e os seus companheiros, verificando desesperada a situação, gritaram a quantos combatentes a seu lado haviam sustentado aquele ponto, que iam tentar romper o cerco, rejeitando as intimações.
Investindo sobre a porteira com coragem de leões, fizeram retroceder o grosso da força, com mortífero e bem dirigido fogo de fuzilaria.
Jogados fora da taipa, os rebeldes deixaram o terreno juncado de cavalos e cavaleiros."
Depois da derrota de Xavier da Cunha, vem a participação do comandante, general Pedro Labatut na Guerra dos Farrapos, cujo acesso havia se dado através da então "Villa do Príncipe".
Teria sido esse o último contacto da Lapa com a campanha farroupilha, se não fosse um juiz lapeano quem pusesse pá de cal às veleidades da união dos liberais de São Paulo com os republicanos gaúchos, com a prisão, perto de Passo Fundo do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.
O juiz lapeano referido foi o Dr. José Gaspar de Oliveira Lima, bacharel de 1832, da primeira turma do curso jurídico de São Paulo.

Sergio A. Leoni, ex-prefeito da Lapa ** "Villa do Príncipe" era a denominação da Lapa, de 1806 a 1872, quando foi elevada a categoria de cidade.


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