quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Histórias do Paraná - Dr. Jofre

Histórias do Paraná - Dr. Jofre

Dr. Jofre
Tito Moreira Salles

Leio todos os dias, com grande satisfação, estas histórias do Paraná. Através delas conheci heróis e vilões, desbravadores e burocratas, personagens sérios e figuras pitorescas que contribuíram de uma ou outra maneira para a vivência paranista.
Todos os dias, espero encontrar algo a respeito de Jofre Cabral, contudo, na falta de talento maior, atrevo-me a passar algumas informações na esperança que, alguém, com melhor descortínio, se anime a retratá-lo.
Conheci Jofre por volta de 1954 por obra e graça de uma "falcatrua" em que fomos coniventes, e vítima a Caixa Econômica Federal, onde ele exercia as funções de advogada Não se escandalizem.
Eu conto tudo: na ocasião fizemos um jornalzinho de estudantes, tudo pronto, faltava o principal, o dinheiro para a impressão.
Mesmo com as "mordidas" aplicadas aos livreiros do ramo, faltava ainda um pouco para ser impresso.
Foi então que alguém sugeriu, meio na gozação, que só o Jofre daria conta disso.
Ingenuamente fomos procurá-lo e expusemos nosso problema.
Jofre perguntou de quanto precisávamos e mandou nos dar o dinheiro.
Pronto o jornal fomos levá-lo para comprovar o investimento, lá estava um anúncio de meia página: - "Estudante, aplique suas economias na Caixa Econômica Federal"- propaganda tão inútil quanto inócua, mas que valeu uma boa gargalhada de nosso benfeitor.
Vim a conhecê-lo de perto já no Santa Mônica, clube que fundou, consolidou, deu vida e amou.
Incrível sua vitalidade: após ter passado a noite toda animando um baile e cantando no final o samba Conceição, que depois virou uma espécie de hino de fim de baile do clube, no dia seguinte lá estava ele desde cedo, estudante de juventude.
Não existe definição para Jofre, foi tudo, e a tudo se empenhou com entusiasmo, destacou-se como dirigente de clubes, o Curitibano deve-lhe a antiga sede urbana e o início da atual sede.
Parece que os obstáculos o revigoram, lutava com contagiante disposição, era um dínamo, liderava com tanta naturalidade que não conseguia fazer inimigos.
Na falta de melhor definição: foi um homem da noite, deu vida à sociedade local e era badaladíssimo pelos cronistas sociais, neste setor nada se passava sem seu beneplácito e nada de interessante acontecia sem a sua presença.
Existem piadas, algumas delas antológicas, em que Jofre aparece, ora como autor, como partidpan-te ou até mesmo vítima, em todas elas destaca-se a imensa simpatia.
Cativar era inato nele.
Aos domingos, o dia era curto para agradar a todas as crianças que estavam no "Santa" pegava-as no colo, dava-lhes balas e sempre era fotografado com elas, tudo isso com tanta naturalidade que Jofre parecia um velho e querido tio dos petizes.
Foi presidente do Atlético e nessa época viajou a São Paulo, onde comprou vários craques em fase de pré-aposentadoria.
Somente na hora do acerto se lembrou de "um pequeno detalhe"- o Atlético estava a zero em questão de finanças, mesmo assim trouxe os jogadores e fundou em Curitiba o São Paulo II, como disseram os críticos na ocasião.
Sabia-se doente, o coração ressentiu-se do intenso esforço, seus médicos proibiram emoções fortes e desgaste físico, ambas as coisas impossíveis para ele.
Teria respondido que preferia morrer na ativa.
Faleceu num domingo, torcendo para o Atlético quando este clube estava ganhando do Londrina.
No enterro foi levado por um caminhão do Corpo de Bombeiros inteiramente coberto de coroas de flores, congestionou o trânsito.
Sentia-se que Curitiba tinha perdido algo, que não seria mais a mesma.

Tito Moreira Salies, médico


Nenhum comentário:

Postar um comentário