quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Histórias do Paraná - A Greve de 17 (I)

Histórias do Paraná - A Greve de 17 (I)

A Greve de 17 (I)
Valêncio Xavier

Em julho de 1917 aconteceu a primeira greve geral do Paraná, especificamente em Antonina, Ponta Grossa, Três Barras (território contestado que, no ano anterior, passara a Santa Catarina). E com grande violência em Curitiba, deixando a cidade em polvorosa durante seis dias com as bandeiras pretas do Anarquismo tremulando nas ruas, saques a estabelecimentos comerciais, atentados a bombas, tiroteios entre operários e a polícia, prisões em massa e sumiço de trabalhadores.
Em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial (1914/18), o movimento anarquista liderava as lutas sociais no Brasil.
Somente em 1920 será criado o Partido Comunista Brasileiro e o socialismo autoritário de Marx passa a querer deitar ordens no movimento operário.
A grande procura nos mercados internacionais de gêneros alimentícios, durante uma guerra que não parecia mais ter fim, deixa a economia do Paraná bem e os trabalhadores mal. Só para se ter uma idéia, em 1916 o Paraná exporta 5.972 suínos, em 1917 exporta 31.273. O governador Afonso Camargo alerta que, na ânsia de exportar, os criadores vendem até as vacas reprodutoras "se esquecendo o dia de amanhã".
Sobem as exportações, somem os gêneros alimentícios para consumo local e sobem seus preços.
Em maio de 1917, o quilo de feijão, que custava 15 mil réis em abril, sobe para 40 mil; a batata que custava 8 mil réis em abril, pulou para 15 mil.
Pensar que os grevistas, além da jornada de oito horas e outras reivindicações pediam um pagamento diário mínimo de 5 mil réis: não dava para comprar nem um quilo de feijão.
A Argentina que vivia a mesma situação, para alimentar seu povo susta a exportação de cereais.
Sem trigo, o Paraná passa a comer pão misturado e seu preço sobe.
Medidas protecionistas da Argentina e Uruguai fazem cair a importação da erva-mate, esteio da economia paranaense de então.
Isso e a suspensão dos trabalhos de construção de estradas de ferro geram o desemprego.
Curitiba tinha perto de 70 mil habitantes e cerca de 80 indústrias principais - beneficiamento de mate e cereais, fábrica de fósforos, de móveis, de pregos, tecelagens, etc. -que empregavam 2.000 operários.
Nesse total não estão incluídos operários dos serviços públicos, trabalhadores da construção civil, da rede ferroviária, gráficos, barriqueiros,
sapateiros, etc.
Jornada de 12 horas, uma hora de almoço na própria fábrica, um só dia, o domingo, de descanso semanal.
Veja o depoimento ao autor de uma operária, menor de idade, de fábrica de fósforos em 1917: "Eu entrava às seis da manhã e saía às sete da noite.
Se chegava atrasada, perdia meio dia de salário.
Se ficava doente, ia para casa e perdia os dias que não trabalhava.
Quem trazia o almoço, quase sempre uma sopa, eram meus irmãos menores - naquele tempo as crianças pobres não tinham escola como hoje. O dia livre eu aproveitava para lavar roupa e o avental de trabalho com que eu ficava na fábrica toda a semana.
No fim do mês vinha o salário: 60 mil réis e um punhado de fósforos... Férias? Não tinha."
"Uma grande satisfação cau-sa-me o fato de viver na miséria: é o consolo de não partilhar com ladrões". E com esse estado de espírito libertário que Octávio Prado vai desencadear, com seus companheiros, a Greve Geral de 1917. Você vai ler a seguir.

Valêncio Xavier, escritor e historiador


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