quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - Massacre de índios

Histórias do Paraná - Massacre de índios

Massacre de índios
Ivo Nalce

Na primeira década do século, Rondon dizia que o Paraná estava na vanguarda dos direitos dos índios.
Só, que, digo eu, a coisa não era bem assim.
Neste século, os conflitos entre índios e brancos nos sertões do Paraná acontecem por dois motivos: um, a represália pelos ataques dos "bugres" para matar brancos, seja a cata de comida, seja por vingança.
Bugreiro — matador de índios — era profissão como outra qualquer. Há o testemunho do bugreiro João Martins que, voltando duma "caçada" trazendo um indiozinho aprisionado, encontra o monge João Maria: ao saber que os índios eram batizados, conforme me assegurou o infalíveljoão Maria, José Martins arrependeu-se e largou a profissão.
"As terras que os índios ocupam secularmente pertencem de fato a outros que as querem medir e cultivar". A frase de um jornal do Paraná mostra, claramente, o segundo e principal motivo dos conflitos entre brancos e índios neste século: a luta pela terra. O índio era um empecilho para a plena ocupação do fértil território paranaense.
Em abril de 1909, colonos do Piraí trucidam uma taba inteira e trazem uma menina índia como troféu, provavelmente para servir depois como mão-de-obra não remunerada.
Em Rio Negro e Palmas sempre houve matanças de índios. A pacificação dos Botocudos de Palmas, deu-se somente em 1915. Na década dos cinqüenta, os Xetás sumiram do mapa quando a especulação colonizadora destruiu suas florestas. O conflito pelos pinheirais da reserva indígena de Mangueirinha, na verdade, não terminou com o assassinato do cacique Ângelo Cretan, em 1980.
Tudo isso serve de introdução para contar o grande massacre de caingangues em Santo Antônio da Platina.
Em abril de 1911, o coronel (título honorífico) Evergisto Alves Capucho, abastado fazendeiro estabelecido à margem esquerda do Rio das Cinzas, reuniu treze peões para expedição contra os caingangues bravios, habitantes das matas entre os rios das Cinzas e Tibagi.
Outro fazendeiro deu a "passoca" — uma vaca gorda para churrasquearem durante a caçada — e começou a festa.
Um dos caingangues, mesmo baleado, atirou-se no Rio das Cinzas e chegou na outra margem.
Enquanto, deitando sangue, subia o barranco, os bugreiros platinenses, pacientemente, faziam fila para atirar, treinando pontaria. A carcaça ensangüentada do caingangue é arrastada pela correnteza.
Calcula-se em pelo menos vinte os caingangues mortos durante os cinco dias da "caçada". Um caingangue morto tempos antes por flechar um menino branco não entrou na conta, apenas, depois de morto, arrancaram-lhe a mandíbula, que foi levada como troféu para a Itália por um viajante.
Um cayuá pacífico também não entrou na conta porque foi morto por um caingangue. índio morto por índio não conta.
José Osório, inspetor do SPI
- Serviço de Proteção aos índios -no Paraná, reclama e o Dr. Freire, promotor da Comarca com fama de homem íntegro, denuncia quatorze bugreiros.
Mas como ninguém foi catar os cadáveres dos caingangues na floresta, não havia provas.
Os acusados alegam que foram para o mato churrasquear.
Apesar das reclamações do Serviço de Proteção ao índio, o inquérito deu em pizza, ou melhor, deu em passoca.

Ivo Nalce, historiador

Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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